Olá amigas!
O meu nome é Graça Dores e sou casada e mãe de 2 filhos.
Sou médica, especialista em Anestesiologia, de profissão e artesã de coração (Atelier Gracinhas Artesanato).
Sou portuguesa (sim, eu sei que muitas pensam que eu sou brasileira!) e moro em Portugal, na cidade do Porto.
Quando a Kah me convidou para estar presente neste projecto fiquei muitíssimo lisonjeada e, simultaneamente, um pouco preocupada… Compartilhar este espaço com nomes tão importantes do artesanato em feltro, alguns dos quais são, para mim verdadeiras referências é uma grande responsabilidade. Mas se Kah que é um amor de pessoa, acha que o meu trabalho pode ter interesse para as outras artesãs, então vamos a isso!
1.
Quando é que o artesanato em feltro começou a fazer parte da minha vida?
Posso dizer-vos que o modo como cheguei ao artesanato e, posteriormente, ao feltro é no mínimo, pouco ortodoxo. Poderei até dizer que foi “por acidente”…
O meu interesse pelo artesanato começou quando eu era ainda criança, por influência da minha avó paterna. Recordo-me que trocava de boa vontade algumas horas de brincadeira pela oportunidade de poder aprender a fazer trabalhos em crochet, tricot, bordados e, sobretudo em tecidos.
No entanto, durante muitos anos, as responsabilidades académicas e posteriormente as familiares bem como o exercício da minha exigente profissão nunca me deixaram tempo para me poder dedicar a este hobby de modo regular.
Há alguns anos, na sequência de interrupção forçada da minha atividade profissional (na sequência de um acidente que lesou gravemente a minha mão direita – e eu sou dextra), “arranjei” tempo e sobretudo motivação para redescobrir o artesanato. As múltiplas intervenções cirúrgicas à minha mão a que fui submetida foram sempre invariavelmente seguidas por longuíssimos períodos de fisioterapia diária. Convenhamos que os exercícios de fisioterapia apesar de serem cruciais e indispensáveis para a recuperação da função são também altamente enfadonhos… Um dia, aborrecida de repetir vezes sem fim os mesmos exercícios decidir procurar algo para fazer, usando as mãos, que pudesse complementar a fisioterapia e, simultaneamente, me “ocupasse o cérebro”. Com a ajuda da internet, verdadeira enciclopédia virtual, fui revisitar as técnicas que já conhecia e descobrir muitas outras. E foi também assim que um belo dia cheguei ao “ maravilhoso mundo do feltro”.
A beleza de alguns dos trabalhos realizados com este material, por crafters de todo o mundo, aguçaram-me a curiosidade e incentivaram-me a experimentar. E aqui, a anestesia também ajudou um pouco… se há instrumento que um anestesista tem que manusear bem são as agulhas (agulhas muito especiais e usadas em locais específicos, claro, mas ainda assim agulhas!!) …eheheh
As minhas primeiras peças em feltro foram confeccionadas no Natal de 2011. Fiz algumas peças muito simples para presentear a família e, não sei se por gentileza ou porque gostaram mesmo, todos disseram que eu tinha jeito e deveria continuar. E foi também por essa altura que a minha irmã me sugeriu que criasse um blogue para mostrar as “gracinhas” que eu ia fazendo e assim nasceu o “Gracinhas Artesanato”.
E, progressivamente, com carinho e dedicação, o trabalho com o feltro passou de hobby a terapia ocupacional, contribuindo para a recuperação funcional e estabilidade psicológica – a verdadeira “artesanatoterapia”- durante os longos períodos em que, devido às múltiplas cirurgias a que fui submetida, me vi privada de exercer a minha profissão.
2.
Quem foi a sua maior inspiração no feltro quando começou?
Sem menosprezar o trabalho das muitas amigas artesãs com que tive a oportunidade de me cruzar neste “mundo do feltro”, não posso deixar de mencionar o trabalho da Érica Catarina. A beleza, delicadeza e qualidade do seu trabalho não deixam ninguém indiferente e, quando comecei a trabalhar com feltro, esta foi para mim talvez a mais importante referência.
3.
Você acha importante seguir um estilo e como foi para você encontrar seu caminho?
Eu penso que, quando começamos a trabalhar com o feltro, observar as peças que as amigas artesãs compartilham connosco nas plataformas virtuais dá uma grande ajuda. Nesta enorme aldeia global, as artesãs não vivem isoladas… e, como e óbvio, há tendências e trabalhos que nos influenciam e que gostamos de reproduzir. No entanto, à medida que vamos adquirindo experiência, parece-me importante preocuparmo-nos não só em fazer igual mas ir progressivamente desenvolvendo o “nosso jeito” de fazer as coisas.
Recordo-me que no início do meu trabalho a minha principal preocupação era fazer um ponto caseado mais regular (bonitinho) possível e um bom acabamento das peças… e não foi nada fácil, confesso! Ultrapassada essa enorme dificuldade, adquiri alguma confiança e decidi começar a desenhar as minhas peças. Comecei por umas bonecas bem simples e à medida que fui dando resposta às encomendas comecei a aumentar a dificuldade. Um dia, o meu marido, viu uma foto de um trabalho meu (uma boneca), que ele não conhecia, no Google e disse-me: “eu nem precisava de olhar para a logomarca pois tinha a certeza que a boneca era tua!” Quando lhe perguntei porquê ele respondeu-me que reconhecia os meus bonecos pelo rosto. Nessa altura tive a certeza que tinha encontrado o “meu estilo”.
Num mundo onde a oferta é tão grande, o cliente irá com certeza dar preferência a quem fizer um bom trabalho e além disso apresentar um design diferenciado. Não podemos esquecer que ter uma peça única confecionada, se possível, desenhada expressamente para si é o principal objectivo de quem procura o trabalho artesanal!
4.
Em algum momento da sua trajetória pensou em desistir?
Não, nunca pensei em desistir!
Por vezes fico um pouco desmotivada…. Tal como na minha atividade profissional, há dias que correm melhor e outros que correm menos bem… e outros em que fico mesmo zangada! Tenho assistido a comportamentos muito pouco éticos e de desrespeito pelo trabalho de algumas artesãs que me deixam muito aborrecida e triste…. Mas esforço-me para que isso não afecte o menos possível o meu trabalho.
Trabalhar com o feltro consegue fazer-me abstrair do stress da minha atividade profissional e dá-me paz e equilíbrio. Como poderia eu abandonar uma tarefa que me ajudou tanto numa fase bem complicada da minha vida e que apesar de tudo é tão gratificante?
5.
Conte-nos um pouco do seu dia-a dia
Penso que o meu dia - a dia é igual ao da maioria das mulheres – “agenda cheia” desde que se levantam até que se deitam!
As limitações funcionais resultantes do acidente não me permitem um exercício a tempo inteiro mas continuo a desempenhar a minha profissão ainda que a tempo parcial. Tentar conciliar uma atividade profissional com as responsabilidades familiares e ainda um hobby que é tão exigente (todas nós sabemos como o trabalho com o feltro é moroso!) não é fácil mas quando se gosta muito do que se faz temos que dar um jeito! E eu levo este meu hobby muito a sério!
6.
O Artesanato consegue lhe trazer alguma renda?
Embora eu tenha a minha profissão como principal fonte de rendimento, o artesanato gera algum dinheiro, claro! As encomendas a que dou resposta gastam material e, sobretudo o meu tempo e não seria lógico não receber uma compensação pelas horas que passo a rabiscar papéis, a cortar e a rasgar moldes e a construir em feltro o trabalho que está “desenhado” na minha cabeça…
7. Apoio familiar
Cá em casa somos 6! Eu, o meu marido, os meus 2 filhos e os meus gatos.
Ao meu marido e aos meus filhos eu devo muito, mesmo muito…
O acidente bem como todo o complicado processo de recuperação e as sequelas a que ele acabou por dar origem foram eventos muito complicados da minha vida. Sem o apoio e o carinho da minha família eu não teria conseguido reorganizar-me de modo a fazer face às minhas novas limitações. Eles estão sempre presentes, motivando e incentivando e apoiando os meus sonhos e isso é, para mim, muito importante.
A minha filha, além de minha “consultora” para os assuntos informáticos (é ela que faz os layout da minha página do Facebook e do blogue) é também a “gestora de imagem” dos meus trabalhos (ajuda em “decisões difíceis” tais como: coloco um lacinho ou uma florzinha?) e a minha “controladora de qualidade”. Como os meus olhos já não são o que eram, é ela que analisa, em detalhe, cada peça, para ver se não há “fios de cola quente”, linhas, pontos fora de sítio, etc. E acreditem, ela é uma controladora de qualidade muito, muito exigente!
Os meus gatos – sim, não me posso esquecer deles!- também desempenham um papel muito importante. Eles são os meus ternos e fiéis companheiros ao longo do dia, quando os restantes membros da família estão longe de casa.
8. Qual a meta que deseja alcançar com o artesanato em feltro?
Bem, eu não defini propriamente uma meta…. Em vez disso, defini dois princípios que orientam o meu trabalho:
- Poder colocar em prática a minha criatividade é, para mim, um dos factores mais aliciantes do trabalho artesanal com o feltro. Embora me inspire em alguns trabalhos que vou vendo pela net procuro, sempre que possível, imprimir o meu cunho pessoal às minhas peças. E criando peças novas eu posso melhorar a minha capacidade de desenho, experimentar novas técnicas, aprender a resolver problemas e, além disso, deixar quem me encomenda muito satisfeito, pois recebe um trabalho único, desenhado e confecionado expressamente para si.
- Trabalhar sempre com amor : o feltro pela sua delicadeza é capaz de reflectir todo o carinho que colocamos no seu trabalho. Estou plenamente convencida que se o tratrarmos com o cuidado e a dedicação que merece ele irá retribuir com um trabalho encantador
9. Quais as mudanças que viu acontecer neste último ano, no artesanato em feltro
No que ao artesanato com feltro diz respeito, estes últimos 2 anos têm sido “recheados” de muitas novidades! A mais importante foi, na minha opinião, a adaptação das técnicas de pintura e modelagem que resultaram uma evolução muito siginficativa do design das peças de feltro.
10. Nossa página faz alguma diferença no artesanato em feltro?
Claro que sim!
As comunidades de artesãs são fonte de aprendizagem e partilha de conhecimentos tão importantes sobretudo para quem está a dar os primeiros passos nesta área.
No grupo Amigas do Feltro temos reunidas numa só página a capacidade de poder observar inúmeros trabalhos de muitos artesãs (aos), poder esclarecer uma dúvida, ter fácil acesso a um molde. Todos estes aspectos são muito importantes não só para a aprendizagem pessoal de cada um dos elementos do grupo (e temos que ter a humildade de reconhecer que estamos sempre a aprender!) como também para o desenvolvimento do artesanato em feltro.
Despedida
E acho que é tudo…
Agradeço de coração a vossa disponibilidade para me “ouvirem” falar um pouco da minha história e do meu trabalho e, claro está, à kah pela oportunidade que me deu de estar presente neste projecto lindo.
Um beijo enorme cheio de carinho
Graça Dores
Gracinhas Artesanato
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E-mail: graca.dores1@gmail.com